domingo, 12 de dezembro de 2010

Canção de uma noite triste e vaga


O céu está claro e intacto
e eu vejo duas estrelas distantes,
os teus olhos

Um sonho eu tive:
doença-ilusão de amor
estranho sentimento, fino e sublime

E guardei-te junto aos olhos
amava o teu nome e o teu sorriso

A vida, porém, é um céu escuro
esconde o que não se pode ver

E agora, nesta noite triste e vaga, respiro a saudade
respiro-te
e vejo os teus olhos claros como estrelas
tão calmos

E é estranha, amor, a sensação
porque te amei tanto e tanto
que me assusta a dor que já não dói
....

Mas o céu está claro e intacto
e eu fito os teus olhos
(minhas duas estrelas)
E deixo, como quem já não se importa,
partirem com a brisa que dissipa o cansaço


Michelle Portugal - 12/12/2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dos significados


Escreverei um poema azul
prateado, verde-limão
Poema de bruma, indizível
escrito em nuvem, vertigem

Que diga, talvez, o que sente
o coração pobre, tão blue
como os olhos da modelo fictícia
e amizades fugazes, silêncio

Assim virá: poema fruta
ou estrela, ou cometa ou tinta
lilás, rosa, verde-fumê

Que seja lua, sabor beijo
cabelos soltos, havaianas
Perfume que nunca se esquece...

(Michelle Portugal - 09/12/10)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pra dizer que contei uma estória (infanto)


Hoje uma pena
Pousou como fosse bichinho
Voadora, ela
Um estranho passarinho sem bico

Não era um passarinho, era pena
Assim por acaso rasante
Leve de tão leve flutuante

Seria de galinha
De quem seria a pena?
Ela, mais que ousada
É também dilema

Mas agora não serei Sherlock Holmes
Abaixo a investigação!
“Era uma vez uma pena flutuante...”, (eu prossigo)
Nessa estória meio sem noção

Michelle Portugal – 26/11/2010

Daquilo que se encerra

Quando me vier a sombra da morte e o silêncio
Pairar no ar qual nuvem em teimosia
Hei de comemorar o próximo ato
Que a vida gentilmente me cedeu

Quando me vier o negro véu da quietude
E tudo for pó e resto e sonhos já dormidos
Hei de angustiar-me pelo fato findo
Que a morte, num flerte cruel concedeu

E quando a doce luz da consciência
Aquietar qual ave já ao longe
Deixarei nos olhos que me amaram
A última letra, um verso final
Do poema que me fiz a cada dia

Michelle Portugal – 16/09/2010

Irretocável

A sutileza das mãos
Serpenteou o corpo
Deixou um rastro louco
Sem dimensão

E a doçura dos lábios
Levou a razão ao acaso
E à servidão

E o homem sorria
E a menina queria
Inquestionavelmente

Mas o homem batia
E a alma ardia
Instantaneamente

A aspereza das mãos
Serpenteava o corpo
Em toques incautos

E no brincar rotineiro
Na solidão do banheiro
A menina, então,
Retocava o batom...

(Michelle Portugal – 28/01/10)

Um riso chama outro riso

Não que a vida seja fantasia
Escancaradamente serena
Ninguém vive de utopia
Nenhuma alegria é tão plena

Não que os ventos tranquilos
Sejam, em suma, presentes
Não creio em extintos gatilhos
Destino de corações dementes

Havia uma tristeza estranha
Havia uma angústia severa

Não que os ais inevitáveis
Tenham escorrido mar a fora
Mas certas dores, intragáveis
São mobília de dar embora

Havia uma tristeza estranha
Havia uma angústia severa
Não que haja felicidade insana,
Mas já tem brilho a primavera

(Michelle Portugal - 08/01/2010)

sábado, 20 de novembro de 2010

Poeminha bobo


  Vai-te um verso meu, amor
Neste bilhete de adeus forçado
Vai-te a minha vida num traçado
A mim me deixa só a dor

Vai, leva-me o riso, linda flor
Que o teu riso ficará guardado
Neste pobre coração trincado
Que sei fingir, sou bom ator

Vai, siga teu eu, a longa trilha
Que há de vir no teu caminho
Algumas pedras, pouco carinho

Vai, amor, que já é tarde
Hei de chorar, pois sou covarde
Hei de beber todo o meu vinho

Michelle Portugal – 15/11/2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Desencontros

A moça quis o afago
A sombra do amparo
O tão almejado fato
E a clareza nas entrelinhas

O rapaz quis o minuto
Sua reflexão necessária
Quis apalpar o tempo
E encontrar-se no momento

Ambos ficaram no vácuo
No desencontro dos acasos
E a resposta silenciada
Foi a última palavra...

Michelle Portugal

sábado, 6 de novembro de 2010

Sobre nuvens e sóis


Hoje eu quero falar de nuvens
De sóis que reluzem nos olhos
E amores achados num sorriso, apenas...

E eu só vou falar de amor
E do amor

Alguns corações trapaceiam
(o meu perdeu o tino)
Vozes fraquejam sem razão

E eu só vou falar de sóis
De sóis que habitam olhos de nuvem

Michelle Portugal

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cicatrizes alheias

 
 Vede! Notórios dias iguais
Tudo se faz diferente
É o vento inconsequente
É o trabalho que se desfaz

Vede! São mãos pedindo mais
É o gesto inexpressivo
É o andar retroativo
Da vida que se desfaz

Vede! São cicatrizes alheias
Sonhos que morrem nas veias
É o choro, são os ais...
Da vida que não se refaz.

Michelle Portugal 25/01/10

Uma parte de mim


Uma parte de mim
Ainda se sente metade
Mesmo entre a multidão
Quando o silêncio é raridade

Uma parte de mim
Ainda Reluta co’a solidão
Mesmo que haja um abraço apertado
Ainda há um vago,
Um vão...

Uma parte de mim
Ainda tateia o sonho abstrato
Ainda condena o fato
Ingrato
Do fim

Uma parte de mim...

(Michelle Portugal – 24/12/09)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por acaso


Eu te amo de longe
E pra mim o vento é aprazível
Ele me traz o teu cheiro
E a tua voz de nuvem

Eu te amo como a andorinha
Tão livre, tão leve, tão alta

E eu te amo e sofro

Não sei em ti o amor
E não sabes em mim a vida
Nem o riso, nem o sonho
Nem os olhos que te quero roubar

Michelle Portugal

sábado, 23 de outubro de 2010

Dias de desalento

Daniel disse de dona Dora, deu dó:
.
-Demente,
Descabelada,
Débil desvairada
Detesto-te!
.
Dura dor de dona Dora!
Decepcionada
desequilibrou,
deu duas dentadas.
.
Daniel desacreditou:
.
-Doida, deste-me dentadas?
.
Depois desumanamente desenfreou dez disparos.
.
Disse devagarzinho dona Dora:
.
-D-e-u-s d-a-i-m-e d-i-a-s!
.
Desacordada desabou.
Desfaleceu.
Dormiu...
.
Danilo,
Dona Dulce,
Damião,
diante de dona Dora:
.
- Deu duro danado. Descanse Dona.

- Daniel desgraçado, dizimado deverá!
.
Dalém descia...
Dor doía dentro d’alma.
Desnorteio,
Desconsolo,
Desesperou-se:
- Deus duramente dispensará dores?
Divinamente dará descanso?
Desculpou-se, dizendo:
- dantes
Disparei
Despercebido,
Descontrolado.
Depois disso desapareceu.
.
Delegado desacreditou.
Detetive deslocou de Diadema,
Descobriria Daniel dentro de dez dias.
.
Despedindo-se depois de dona Dora... Danilo, Dona Dulce, Damião, declamaram desconsolados, duvidosos do destino dela:
.
-Deus dará descanso! Dor doía dentro d’alma deles.
.
Dias depois da despedida, detetive descobriu Daniel.
.
Desatino dentro da delegacia: deprimido, debilitado... detestava-se. Dava dó da dor dele! Dor doía dentro d’alma...
...
.
Data de duzentos dias depois da despedida dramática de Daniel. Descrevi detalhadamente.
Desculpe, desprovida destreza.
.
Domingo, Dois de dezembro.
.
(Michelle Portugal – 08/06/09)-

domingo, 17 de outubro de 2010

Candura


Se a palavra mais crua
se rendesse à  doçura
e o riso fosse terno
e a candura a melodia

se a esperança fosse a sina
e o abraço imaculado
o único interesse, de fato

então haveria a sutileza
no riso infeliz, a beleza
em cada novo olhar a certeza
de haver só sentimento casto

Michelle Portugal 29/ 08/2010

À espera


Eu vejo um corte exposto e o corpo inanimado
Ao lado, a sombra de ilusão projetando lágrimas

E sei do negro céu
E me sabe toda a fé que é falha

Ainda assim vejo um milagre
Inexplicavelmente em negro céu de desventuras
Surgindo do abismo profundo

E sei das voltas que a vida dá
E dos becos que escondem clarões...

Michelle Portugal 28/09/2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O livro

E a palidez de cada verso me riu com lábios torpes. Era crua a palavra e o coração estava nu. Eu fitei as reticências, ponto a ponto. Vírgulas em sobressalto. Olhei ao redor e o que vi foi abismo. O que vi foi abismo e ecos de silêncio... O que senti foi nada. Assim o acaso me fez forte e me fez fraca outra vez. Eu vi a dança das palavras, o engodo e o destempero. Uma letra fria e morta me fitou com olhos tintos, olhos tintos de saudade. Então me fiz Jó*: engoli o gosto acre do amor mal sentido. Depois senti o frio e os ecos do silêncio. Ademais, eram só palavras... e o mesmo oco no coração.
.
* "A minha alma recusa tocar em vossas palavras, pois são como a minha comida fastienta" Livro de Jó 6:7 - Bíblia.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Considerações

Eu quero saber-me em poética livre
Longe das agruras sugadoras do sentimentalismo
Ausente do que me é banal, incongruente e perecível.
Eu quero salivar no desejo exacerbado de atar-me em laços e fino trato,
sem censura ou inviabilidade de efeitos.
Eu quero, além do céu insípido e da tristeza que paira no ar,
 Além do vazio que permeia a essência do que me é refúgio
Além do nada que corrói a última fagulha que havia,
Ouvir-me em canção descompassada.
Sangrar as miudezas que me circulam as veias
Ser a liberdade do vento que não paga pedágio
E a pulsação espontânea em qualquer hora e lugar desimportante.
Eu quero achar-me no fio da meada, da meada que perdi
E saber-me assim, em poética livre
Que de tão livre não se perde nos cortes, nas vírgulas, nos pontos...
E não deixa de possuir a si por um fadado e tolo capricho.

(Michelle Portugal) 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A arte de sonhar (para crianças)


Eu tenho um vento colorido
Bem na palma da mão
Vento que andava perdido
Sem destino, caído no chão
.
Também uma estrela cadente
Que trago num pote de vidro
A estrela tem cor reluzente
E o vento é demais colorido
.
Se o dia é triste e a noite fria
Decerto terei alegria
Pois há um vento assim colorido
E também uma estrela comigo!
 .
Michelle Portugal

Espaços


Sobra-me vácuo entre o amargo e o doce
Os dias são os mesmos, só há um vento mais frio
E eu me recuso olhar o céu inerte
Divago...
.
O tempo escorre pelas mãos, as minhas
E Foge sem deixar sinais
Noutro dia é possível ver o mesmo céu
a mesma lua prateada
Mas há estranheza no olhar
.
O mundo é sempre o mesmo e é tão diferente
O sol nunca morre, só morre o coração
Depressa, cada vez mais
.
Michelle Portugal

Ao alcance das mãos



E sigo entre os vãos de uma busca
Os passos de um vestígio incerto
Há um horizonte ali perto
.
E sacrifico a razão que é mesquinha
Pois já morri entre os vãos do palpável
Naufraguei em terra estável
.
Perambulo ilusões minha sina
A concretude do sonho fascina
.
Michelle Portugal

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Tornozelo

A moça de cabelos ruivos ornava com o gramado: uma imagem invariavelmente bela. Eu, inerte. E também o céu e o lago e as flores e as folhas e o vento que não as levou.
Aproximou-se, em curvas sutis, pele alva e boca perigosa. Olhos a tragavam, não mais que os meus, famintos. Ombros despidos e um calcanhar esquerdo, que me balbuciava aos ouvidos a melodia de todos os atos. Eu, porém, inerte. E também os galhos da árvore e o balanço e o menino de boné azul.
Depois de um tempo ficou apenas o gramado e o verde e as borboletas. Quiçá tivesse tela e tinta naquela tarde! Contornaria seu tornozelo para depois, no silêncio do meu quarto, vê-lo de perto junto ao pescoço e aos olhos e corpo todo.

Michelle Portugal - 14/09/2010

sábado, 11 de setembro de 2010

A visita


A visita

Ela veio atrevida, em polvorosa
Despir-me na noite mais fria
E como o vento que roça e arrepia
Como a língua que lambe jocosa...

Conheci a sua boca majestosa
A me Engolir em suma, covardia!
E nos feixes de luz que eu não via
E no atalho da noite perigosa...

Imergi em seus olhos de morte
E toquei o inverso da benevolência
Passos perdidos na escuridão...

Num trago, levou-me o norte
 Depois se foi, com evidência
Umedecer o lenço de algodão...

(Michelle Portugal – 23/04/10)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As cores

 
Qual era a cor do dia
Quando, jogada ao léu,
A poesia voou tão precisa
E pousou no papel?

E qual era a cor do vento
Quando teu melhor intento
Encontrou a imprecisão
No vácuo do não?

Qual era a cor da chuva
Quando a paz nebulosa
Contraditoriamente
Fez-se aflição eloqüente?

Qual era a cor do riso
Quando o choro mais ríspido
Tinha feição de poeira
Leve e passageira?

Qual era a cor do dia
Havia, ao menos,
Raro tom de poesia?

(Michelle Portugal – 01/02/10)

Segredos e Quimera



Talvez lá fora
haja uma lua escondida
e corações a guardar um amor adormecido

Talvez more algum bandido
no parque onde o sol se doa
às flores da primavera

Mas se aqui ficarmos
te ensinarei alguns passos
e depois vice-versa.

Faremos a melhor dança
e teremos um abrigo


Michelle Portugal 18/08/10

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O vento e os acordes







O vento e os acordes

O acorde do vento me disse
que todos os risos são tristes
que toda noite a lua insiste
mostrar o brilho que não há

O acorde do vento, ironia
cantou pra mim notas frias
com todo o silêncio que fala
e em doce tristeza que ri

O acorde do vento tão seco
pairou no silêncio imprimido
num céu de azul desbotado...
Que sentimento tão meu!

Michelle Portugal – 22/07/10

sábado, 17 de julho de 2010

No controle



‘Hoje o sol tem cor de gelo’ foi o que pensou a moça ao acordar. Vestiu-se com pressa, meias brancas e um “All Star” surrado.
O vento era delicado lá fora, as nuvens de algodão. Alguns trocados no bolso, um ônibus verde e, então, seu destino.
Trabalhar em Las Vegas nunca foi um sonho, mas era logo ali e havia meninas legais.
Por entre as mesas, imitava um riso qualquer e, como de praxe, balbuciava as monossilábicas palavras, sentia-se orgulhosa por saber fingir.
Havia um perfeito enquadramento dos fatos aos seus íntimos planos, exceto as roupas e o salário. Mas era bem inteligente e isso bastava.
- entre! – exclamou a risonha colega no banco traseiro de um fusca.
- Não, obrigada. – respondeu ela, apressada, nada risonha, concentrada num ônibus verde, parado na esquina.
Tudo sob controle, salvo uma antipatia nada proposital, que fazia martelar na mente da garota, a indesejada inexpressividade devoradora.
 ‘Agora o sol derreteu’ analisando outra vez o astro, que já se escondia no fim da tarde.
Após a comida diária, uma breve leitura, algumas lembranças e o cochilo no sofá. E então mariana concluía outra vez a tarefa de todos os dias.
Era tudo absolutamente normal e prazeroso. O silêncio infinito das paredes, cortinas azuis e abajur de noites a fio. Regia os minutos, exceto a solidão implacável configurada em cada gota de sal que rugia no escuro.

Michelle Portugal

sábado, 3 de julho de 2010

Das sobras


Hoje eu me vi perdida
respirando a poeira das sobras
e estive cansada
fui escombros e pó, mais nada
 .
Hoje, cingida num saco
a dor me foi o único abrigo
e então fui só vestígio
e fui vertigens e fui lágrimas...
 .
hoje, olhando o abismo
inerte e seduzida
eu vi sombras e fui sobras;
fui só o inverso da vida.
 .
(Michelle Portugal -26/06/2010)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Breve relato sobre você

Foi assim

a lua se perdeu no céu

e ele, negro,

te fitou indiferente


e então

uma dor estranha

marcou a esperança

a tua esperança já tão marcada


e uma lágrima tímida

traduziu a voz amarga

de uma alma sofrida


era a tua alma

era a tua alma reduzida

a dor


eu?

de longe fitei a tua sina

e olhei-te, indiferente

era a mesma indiferença

a dura e então indiferença

daquele negro céu


Michelle Portugal – 11/06/2010