sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pra dizer que contei uma estória (infanto)


Hoje uma pena
Pousou como fosse bichinho
Voadora, ela
Um estranho passarinho sem bico

Não era um passarinho, era pena
Assim por acaso rasante
Leve de tão leve flutuante

Seria de galinha
De quem seria a pena?
Ela, mais que ousada
É também dilema

Mas agora não serei Sherlock Holmes
Abaixo a investigação!
“Era uma vez uma pena flutuante...”, (eu prossigo)
Nessa estória meio sem noção

Michelle Portugal – 26/11/2010

Daquilo que se encerra

Quando me vier a sombra da morte e o silêncio
Pairar no ar qual nuvem em teimosia
Hei de comemorar o próximo ato
Que a vida gentilmente me cedeu

Quando me vier o negro véu da quietude
E tudo for pó e resto e sonhos já dormidos
Hei de angustiar-me pelo fato findo
Que a morte, num flerte cruel concedeu

E quando a doce luz da consciência
Aquietar qual ave já ao longe
Deixarei nos olhos que me amaram
A última letra, um verso final
Do poema que me fiz a cada dia

Michelle Portugal – 16/09/2010

Irretocável

A sutileza das mãos
Serpenteou o corpo
Deixou um rastro louco
Sem dimensão

E a doçura dos lábios
Levou a razão ao acaso
E à servidão

E o homem sorria
E a menina queria
Inquestionavelmente

Mas o homem batia
E a alma ardia
Instantaneamente

A aspereza das mãos
Serpenteava o corpo
Em toques incautos

E no brincar rotineiro
Na solidão do banheiro
A menina, então,
Retocava o batom...

(Michelle Portugal – 28/01/10)

Um riso chama outro riso

Não que a vida seja fantasia
Escancaradamente serena
Ninguém vive de utopia
Nenhuma alegria é tão plena

Não que os ventos tranquilos
Sejam, em suma, presentes
Não creio em extintos gatilhos
Destino de corações dementes

Havia uma tristeza estranha
Havia uma angústia severa

Não que os ais inevitáveis
Tenham escorrido mar a fora
Mas certas dores, intragáveis
São mobília de dar embora

Havia uma tristeza estranha
Havia uma angústia severa
Não que haja felicidade insana,
Mas já tem brilho a primavera

(Michelle Portugal - 08/01/2010)

sábado, 20 de novembro de 2010

Poeminha bobo


  Vai-te um verso meu, amor
Neste bilhete de adeus forçado
Vai-te a minha vida num traçado
A mim me deixa só a dor

Vai, leva-me o riso, linda flor
Que o teu riso ficará guardado
Neste pobre coração trincado
Que sei fingir, sou bom ator

Vai, siga teu eu, a longa trilha
Que há de vir no teu caminho
Algumas pedras, pouco carinho

Vai, amor, que já é tarde
Hei de chorar, pois sou covarde
Hei de beber todo o meu vinho

Michelle Portugal – 15/11/2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Desencontros

A moça quis o afago
A sombra do amparo
O tão almejado fato
E a clareza nas entrelinhas

O rapaz quis o minuto
Sua reflexão necessária
Quis apalpar o tempo
E encontrar-se no momento

Ambos ficaram no vácuo
No desencontro dos acasos
E a resposta silenciada
Foi a última palavra...

Michelle Portugal

sábado, 6 de novembro de 2010

Sobre nuvens e sóis


Hoje eu quero falar de nuvens
De sóis que reluzem nos olhos
E amores achados num sorriso, apenas...

E eu só vou falar de amor
E do amor

Alguns corações trapaceiam
(o meu perdeu o tino)
Vozes fraquejam sem razão

E eu só vou falar de sóis
De sóis que habitam olhos de nuvem

Michelle Portugal

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cicatrizes alheias

 
 Vede! Notórios dias iguais
Tudo se faz diferente
É o vento inconsequente
É o trabalho que se desfaz

Vede! São mãos pedindo mais
É o gesto inexpressivo
É o andar retroativo
Da vida que se desfaz

Vede! São cicatrizes alheias
Sonhos que morrem nas veias
É o choro, são os ais...
Da vida que não se refaz.

Michelle Portugal 25/01/10

Uma parte de mim


Uma parte de mim
Ainda se sente metade
Mesmo entre a multidão
Quando o silêncio é raridade

Uma parte de mim
Ainda Reluta co’a solidão
Mesmo que haja um abraço apertado
Ainda há um vago,
Um vão...

Uma parte de mim
Ainda tateia o sonho abstrato
Ainda condena o fato
Ingrato
Do fim

Uma parte de mim...

(Michelle Portugal – 24/12/09)