quinta-feira, 19 de maio de 2011

Levitar



Levitar

Acariciou os punhos para abrandar a tristeza, dissipar a morte, esquecer o amargo da noite. Retomar o norte. Respirou fundo em busca de luz, lastro de vida, seta a indicar um caminho. Não sabia nada sobre superação. Renasceu num sopro, leve piscar de olhos. Ninguém lhe falou de esperança. Não conhecia o vulcão do silêncio. Jamais leu poesia, exceto nas flores e sol. Não se fez ouvida a sua voz, embora doce. Nem se sentiu o seu calor, mesmo muito. Mas cantou. Porque há sempre uma pausa no mundo. No ímpeto da fúria, um segundo. E um fio de luz é sempre luz. Levitou não se sabe como, nem qual nuvem lhe deu a mão.

Michelle Portugal

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Revelação




Eu tive um sonho lilás outro dia, mas não me lembro em qual lua.
Chovia tanto. Chovia ritmo e contemplação.
Em cada pingo havia uma fenda, em cada fenda uma emoção.

(Michelle Portugal)

Canção dos acasos


Canção dos acasos

Os vasos estão quebrados
e os sinos murmuram tristeza
cada milímetro de vida
em detalhes de riso empoeirado

eu quereria a mesma emoção, ainda
não fosse o frio e os desencontros
não fosse o inverno da noite

eu veria, talvez, a tua imagem
-esta perturbação nos meus sonhos
e acalanto estranho no meu peito-

quiçá as borboletas me trouxessem
o lilás, o verde, a emoção
de amar o estúpido, o doce e o amargo:
Teu sorriso

Michelle Portugal

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Canção Nova



Canção Nova


Este quebranto indomável que me é o ser
Fragilizado pulsante um coração
Perdido na volúpia de um sonho sem fim

Estou resignado
Num calabouço à procura de espaço
Ou clarão de lua branca bailarina

Dê-me flores, ou gentileza da vida
Que só quero me sentar à margem do rio
Que só preciso de um pouco de amor

Apague a luz dessa noite festiva, pare de rir
E me cante uma canção de esperança


Michelle Portugal – 04/05/2011