sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Dos motivos



Eu procuro versos e de procurar me canso
Além de me cansar de todas as procuras
De todos os tons que me enfeitam a janela
De todas as cortinas que me privam o sol

Eu penso verdades e também me canso
Além de me obrigar a engoli-las
( são bisturis)
E ainda frágeis e fugazes como a beleza

E eu procuro versos como quem quer alívio
De todos os males que fartam o coração
E de verdades que mentem, apenas
E dos porquês que se cansam, sem paixão

Michelle Portugal 07/11/2010.

Imprecisão

Olha, eu nem sei mesmo quem sou. E jamais me encontrei nesses becos escuros onde o silêncio e a dor se locomovem nos pulmões.
Também não há rastros de mim nas amarelinhas da Rua Vicente Quaresma, verão, mil novecentos e noventa e sete.
Sabe? Não me importa mais saber se nasci há dez mil anos ou morri nos vinte segundos subsequentes. Vou ali dar uma volta com o vento, assoviar nem sei o quê e seguir sabe- se lá pra onde...

Michelle Portugal

Eco


Em um mundo de palavras nenhuma palavra há
Nenhuma palavra há para embalar as vísceras em um mundo
De palavras e vísceras

(esmagadas)

Michelle Portugal

Carta com C

           
Caro Carlos
coisas conto
como careço
cantar canção

comecei curso
colegas camaradas
cada casa clarão

coisas calei
como contar?
cada canto
céu cinza
considero carência
contudo, conto cada chão
carinho cá,

Carolina.




Cara Carolina
Cada canto
Céu cinza
Cada curva
Cerração

Careço contar
Coisa cruel
Como calei
Cada canção

Como Chorei
Cada chão
contudo, criou coragem
coração

carrego carinho
criança cresci
correspondo cartas
cada coisa cri

Michelle Portugal

Verbo


Queria mesmo me perder. Desmemoriar. Não lembrar de nomes ou cores. Me perder pra finalmente me encontrar.


Não muito triste, mas com certo cansaço eu digo que a vida se repete. E todos os dias a canção chora na voz do artista. E ouço a canção e me lembro de quantas canções é feita uma só canção. As pessoas chegam e vão embora. Um dia percebemos que estamos sós no grande mundo. Não abandonados, renegados de deus. Deus que nem sempre cabe no próprio nome. Mas sós nesta busca frágil. Algo me diz que vivi na terra há trezentos anos. Eu chorei como eu choro hoje. E vi as mesmas estrelas e contei os faróis. Meu coração há de se lembrar. E sempre foi assim: eu sozinho no mundo, procurando por alguém. Mas alguém não tem nome. Alguém é sempre quem não temos. E quando temos, já não temos mais.


(Michelle Portugal)