sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Imprecisão
Olha, eu nem sei mesmo quem sou. E jamais me encontrei
nesses becos escuros onde o silêncio e a dor se locomovem nos pulmões.
Também não há rastros de mim nas amarelinhas da Rua Vicente
Quaresma, verão, mil novecentos e noventa e sete.
Sabe? Não me importa mais saber se nasci há dez mil anos ou
morri nos vinte segundos subsequentes. Vou ali dar uma volta com o vento,
assoviar nem sei o quê e seguir sabe- se lá pra onde...
Michelle Portugal
Eco
Em um mundo de palavras nenhuma palavra há
Nenhuma palavra há para embalar as vísceras em um mundo
De palavras e vísceras
(esmagadas)
Michelle Portugal
Carta com C
Caro Carlos
coisas conto
como careço
cantar canção
comecei curso
colegas camaradas
cada casa clarão
coisas calei
como contar?
cada canto
céu cinza
considero carência
contudo, conto cada chão
carinho cá,
Carolina.
Cara Carolina
Cada canto
Céu cinza
Cada curva
Cerração
Careço contar
Coisa cruel
Como calei
Cada canção
Como Chorei
Cada chão
contudo, criou coragem
coração
carrego carinho
criança cresci
correspondo cartas
cada coisa cri
Michelle Portugal
Verbo
Queria
mesmo me perder. Desmemoriar. Não lembrar de nomes ou cores. Me perder pra
finalmente me encontrar.
Não
muito triste, mas com certo cansaço eu digo que a vida se repete. E todos os
dias a canção chora na voz do artista. E ouço a canção e me lembro de quantas
canções é feita uma só canção. As pessoas chegam e vão embora. Um dia
percebemos que estamos sós no grande mundo. Não abandonados, renegados de deus.
Deus que nem sempre cabe no próprio nome. Mas sós nesta busca frágil. Algo me
diz que vivi na terra há trezentos anos. Eu chorei como eu choro hoje. E vi as
mesmas estrelas e contei os faróis. Meu coração há de se lembrar. E sempre foi
assim: eu sozinho no mundo, procurando por alguém. Mas alguém não tem nome.
Alguém é sempre quem não temos. E quando temos, já não temos mais.
(Michelle
Portugal)
Assinar:
Postagens (Atom)