sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Verbo


Queria mesmo me perder. Desmemoriar. Não lembrar de nomes ou cores. Me perder pra finalmente me encontrar.


Não muito triste, mas com certo cansaço eu digo que a vida se repete. E todos os dias a canção chora na voz do artista. E ouço a canção e me lembro de quantas canções é feita uma só canção. As pessoas chegam e vão embora. Um dia percebemos que estamos sós no grande mundo. Não abandonados, renegados de deus. Deus que nem sempre cabe no próprio nome. Mas sós nesta busca frágil. Algo me diz que vivi na terra há trezentos anos. Eu chorei como eu choro hoje. E vi as mesmas estrelas e contei os faróis. Meu coração há de se lembrar. E sempre foi assim: eu sozinho no mundo, procurando por alguém. Mas alguém não tem nome. Alguém é sempre quem não temos. E quando temos, já não temos mais.


(Michelle Portugal)

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